O número de processos de despedimentos coletivos iniciados até 31 de agosto já ultrapassou o valor total de 2023. Apesar de confessar que existem "vários setores com problemas", destacando-se o do calçado e o do vestuário, o presidente da Confederação do Comércio e Serviços de Portugal (CCP), João Vieira Lopes, considerou que "não estamos a assistir a uma recessão global".
De acordo com os dados mais recentes disponibilizados pela Direção-Geral do Emprego e das Relações do Trabalho (DGERT), 318 empresas avançaram com processos de despedimento coletivo, pretendendo, num universo de 26.476 trabalhadores, despedir 4.178.
Saliente-se que, em 2023, 372 empresas com um total de 22.417 trabalhadores pretendiam despedir 3.819 funcionários, tendo despedido efetivamente 3.622 pessoas.
Este ano, e em termos regionais, 169 empresas de Lisboa e Vale do Tejo tencionavam despedir 1.943 trabalhadores, enquanto 92 empresas da região Norte avançaram com processos de despedimento de 1.633 funcionários.
Além disso, 102 micro e 136 pequenas empresas comunicaram processos de despedimento coletivo de 430 (entre 564) e de 1.361 trabalhadores (entre 2.937). Por seu turno, 48 médias empresas pretendiam despedir 989 de 5.167 funcionários, enquanto 32 grandes empresas avançaram com o despedimento de 1.398 pessoas entre 17.808.
Há algumas alterações de hábitos de consumo a seguir à pandemia
Ainda que existam "várias áreas do mercado que têm problemas", entre elas os setores do vestuário e do calçado, o presidente da CCP ressalvou, em declarações ao Notícias ao Minuto, que "não estamos a assistir a uma recessão global".
"As pequenas e médias empresas individuais estão a ter algumas dificuldades. Há algumas alterações de hábitos de consumo a seguir à pandemia e existem também mais situações de teletrabalho. No caso do calçado, há um fenómeno que é europeu: um grande número de pessoas usa ténis no dia a dia até em situações bastante formais. Portanto, a sapataria tradicional está numa certa crise. Isto leva naturalmente a que haja um número maior de encerramentos ou de despedimentos parciais", esclareceu.
Mas não é tudo: a Covid-19 também trouxe mudanças ao setor alimentar, com a valorização do comércio de proximidade e a abertura de "lojas pequenas e médias em localidades onde, até agora, [as grandes empresas] não tinham dimensão para ter esse tipo de estabelecimentos".
As alterações de consumo também afetaram a restauração, não só pela proliferação do teletrabalho, mas também por "haver uma percentagem muito maior de pessoas que trazem refeições de casa", o que se traduz em encerramentos nas zonas de escritórios, "especialmente em unidades de pequena e média dimensão".
No próximo ano, o grau de incerteza é bastante grande, tendo em conta a situação das economias europeias
O responsável destacou que as "medidas extra para os pensionistas e a diminuição das retenções da fonte em termos de IRS […] não deram mais rendimentos anuais às pessoas, mas aumentaram a liquidez a curto prazo".
"Apesar de ainda não ser muito pronunciado, as descidas das taxas de juro têm aliviado as prestações dos créditos à habitação", exemplificou.
De qualquer modo, João Vieira Lopes salientou que "não é provável que esta situação se intensifique até ao fim do ano", apesar de ter ressalvado que, "no próximo ano, o grau de incerteza é bastante grande, tendo em conta a situação das economias europeias".
"É uma situação que não é de crise geral, mas existem indicadores que apontam nesse sentido. Se esses operadores independentes ou médios encerram, o setor grossista, que é o seu principal abastecedor, também tem consequências e começam a surgir algumas situações de encerramentos totais ou parciais", complementou.
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