Virginia Dignum, que é professora de IA na Universidade Umeå, Suécia, e integra o órgão de Alto Nível das Nações Unidas sobre inteligência artificial, é oradora principal da conferência DemocracI.A., o II Encontro Sustentável da Plataforma para o Crescimento Sustentável (PCS), que se realiza em Serralves, no Porto, em 25 de novembro.
"O desafio para a democracia penso que seja maior do que só a inteligência artificial", porque "estamos a viver uma época geopolítica em que as diferenças e as democracias estão em risco em muitas partes do mundo", salienta a académica portuguesa.
Agora, "o que a inteligência artificial acrescenta a esta causalidade atual é a capacidade de aumentar a desinformação", aponta.
Por um lado, "por aumentar a distribuição e o impacto e o acesso a várias fontes de informação, nem todas, como eu digo, são reais, portanto, desinformação", refere.
Por outro, pode, "e está-se a ver já em vários sítios, começar a alterar os processos democráticos através de algoritmos que são usados para fazer, por exemplo, as contagens de voto" e até sondagens.
Os algoritmos "estão cada vez mais a influenciar os processos de eleições democráticos" e estes "são os riscos maiores da IA para a democracia, mas como eu digo, penso que a democracia tem mais problemas do que só aqueles que são causados pela IA".
Até porque notícias falsas e conteúdos falsos "sempre houve", agora o que a IA permite é que estes sejam "muito mais sofisticados de uma maneira que é mais difícil descobrir se são falsos ou não", enfatiza a investigadora.
Além de que a "distribuição e o alcance dessas notícias falsas é muito maior do que era antigamente", sublinha.
Por isso, "não é só o facto de haver mais notícias falsas que é o único desafio para a democracia, estamos a ver que os desafios da democracia vêm através de uma indiferença popular em relação aos processos democráticos e aos processos de eleições", reforça.
Ou seja, de um "'hijacking' [sequestro] dos processos democráticos por partidos ou parceiros que não são diretamente democráticos, mas utilizam os processos democráticos para alcançar os seus fins", ilustra.
E todos esses processos "têm pouco a ver com a inteligência artificial, mas são extremamente nefastos para os processos democráticos", remata Virginia Dignum.
Da mesma maneira que a IA pode construir informação falsa, também pode ajudar a explicar os pontos e as diferenças dos partidos nos processos eleitorais, de maneira a que seja mais acessível aos eleitores terem contexto e visão global sobre a situação, segundo a investigadora.
Leia Também: "É mais responsável fundarmos a IA nos Direitos Humanos"