O início da semana ficou marcado por mais ataques na Faixa de Gaza que, para além de causarem cerca de 20 palestinianos mortos, resultaram ainda na morte de pelo menos seis jornalistas.
Tudo começou com um ataque ao hospital de Nasser, onde começou por ser noticiado que quatro jornalistas tinham morrido e um quinto tinha ficado com ferimentos graves. Este último acabou também por morrer e, mais tarde, ainda na segunda-feira, foi anunciada ainda a morte de um outro jornalista.
Os quatro jornalistas a morrerem foram Hossam Al Masri, repórter de imagem da Reuters, Mohamed Salama, repórter de imagem da Al Jazeera, Mariam Abu Dagga (repórter da Associated Press) e Moaz Abu Taha, que foi numa primeira instância associado à NBC News, tendo a estação televisiva vindo esclarecer isto não se verificava - a Reuters explicou depois que já tinha publicado trabalhado com Taha.
Depois de ter sido transferido para o hospital com ferimentos graves, também Ahmed Abu Aziz, que trabalhava para a Quds News Network, morreu.
So israel killed 4 journalists at once today in Gaza. pic.twitter.com/ct6ifSUGIy
— Muhammad Smiry 🇵🇸 (@MuhammadSmiry) August 25, 2025
Ao final do dia também foi anunciada a morte de um sexto jornalista, Hassan Douhan, que terá sido atingido a tiro por soldados israelitas em Khan Younis. De acordo com a publicação Middle East Eye, Douhan era o editor da publicação Al-Hayat al-Jadida, o diário da Autoridade Nacional Palestiniana. Douhan era um jornalista de investigação que, de acordo com a imprensa, estava a orientar vários jornalistas a trabalhar no enclave.
De acordo com o Comité para a Proteção de Jornalistas, desde que o conflito se intensificou no Médio Oriente, com os ataques de 7 de Outubro, já morreram cerca de 200 jornalistas.
Netanyahu fala em "trágico acidente", mas o resto do mundo condena
Após as primeiras mortes serem conhecidas, e confirmando o ataque ao hospital, Israel não demorou a reagir, lamentando "qualquer dano a pessoas não envolvidas". As forças israelitas referiram ainda que "não atacam jornalistas enquanto tal" e que foi ordenada uma "investigação preliminar fosse realizada o mais rápido possível".
Mas para além das chefias militares, também o governo reagiu, com o primeiro-ministro israelita a lamentar o "trágico acidente" que matou os jornalistas.
Na nota hoje divulgada pelo seu gabinete, Netanyahu afirma que "Israel valoriza o trabalho dos jornalistas, dos profissionais de saúde e de todos os civis".
"A nossa guerra é contra os terroristas do Hamas. Os nossos objetivos conjuntos são derrotar o Hamas e trazer os nossos reféns de volta para casa", afirmou ainda o primeiro-ministro israelita, a respeito dos objetivos que traçou para o conflito.
Já o Hamas acusou Israel de atacar deliberadamente médicos e jornalistas ao bombardear a unidade hospitalar e denunciou que com este "novo massacre" Telavive quis intimidar jornalistas para que não relatem a "limpeza étnica" que está a acontecer na Faixa de Gaza.
Para além de Israel e do grupo islamita Hamas, foram várias as reações, nomeadamente, condenações. Portugal considerou o ataque como "inqualificável" e lembrou que os jornalistas, os civis e os profissionais de saúde "devem ser protegidos incondicionalmente".
O Ministério dos Negócios Estrangeiros, tutelado por Paulo Rangel, vincou ainda, na mesma nota, que "o cessar fogo é um imperativo da mais elementar humanidade e não pode mais ser adiado".
O ataque israelita ao Hospital Nasser em Gaza é inqualificável. Os jornalistas, os civis e os profissionais de saúde devem ser protegidos incondicionalmente. O cessar fogo é um imperativo da mais elementar humanidade e não pode mais ser adiado.
— Negócios Estrangeiros PT (@nestrangeiro_pt) August 25, 2025
Já a União Europeia (UE) instou Israel a parar com "a prática de matar" jornalistas, médicos e equipas de resgate, após um duplo ataque do Exército israelita contra um hospital na Faixa de Gaza.
"Mais uma vez, peço a Israel que pare com a prática de matar aqueles que tentam informar o mundo sobre o que se passa em Gaza", escreveu a comissária europeia para a Ajuda Humanitária e Gestão de Crises, Hadja Lahbib, na rede social X.
One of the main only partially operating hospitals in Gaza was hit again.
— Hadja Lahbib (@hadjalahbib) August 25, 2025
It is with a very heavy heart that I learnt of several civilian casualties, including journalists, during the strikes at Nasser Hospital. Medics & rescuers were also killed. All of them doing their job.🧵
O secretário-geral da Organização das Nações Unidas (ONU), António Guterres, condenou veemente a morte dos palestinianos e sublinhou que entre as vítimas estavam médicos e jornalistas. A ONU pediu ainda que fosse desenvolvida uma investigação ao caso, advogando que as mortes em causa realçam os riscos extremos que os profissionais de saúde e os jornalistas enfrentam ao realizarem o "seu trabalho vital no meio deste conflito brutal".
Também o presidente francês, Emmanuel Macron, condenou o ataque, considerando-o como intolerável e salientando que "civis e jornalistas devem ser protegidos em todas as circunstâncias".
Na mesma publicação onde condenou este ataque, Macron contou que tinha falado com o Emir do Qatar, escrevendo ainda: "Trocámos opiniões sobre a dramática situação em Gaza. Reduzir uma população à fome é um crime que deve acabar imediatamente."
Je viens de m’entretenir avec l’Émir du Qatar.
— Emmanuel Macron (@EmmanuelMacron) August 25, 2025
Nous avons échangé sur la situation dramatique à Gaza. La réduction d’une population à la famine est un crime qui doit cesser immédiatement.
Ce matin, de nouvelles frappes israéliennes sur un hôpital à Gaza ont causé la mort de…
De acordo com dados divulgados pelas autoridades do enclave palestiniano, a ofensiva lançada por Israel em Gaza já fez cerca de 62.700 mortos.
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