"As escadas junto à sala de operações são um centro (de trabalho) para os jornalistas, onde colocam as suas câmaras para transmitir para os meios de comunicação social locais e internacionais, não é segredo. Toda a gente sabe, incluindo Israel", disse Sakar num vídeo divulgado pelo Ministério da Saúde de Gaza, que avançou que o número de vítimas destes ataques subiu para 22.
O responsável nega a versão israelita de que havia uma "câmara escondida" no edifício, referindo-se à afirmação do exército israelita de que havia "uma câmara colocada pelo Hamas" naquela zona do hospital.
"Penso que as forças de ocupação (israelitas) deviam ter-nos telefonado, têm os nossos números e, por vezes, telefonam-nos. Se tivessem objeções quanto à presença de jornalistas no quarto andar, poderíamos ter resolvido o problema", acrescentou Sakar.
No vídeo, o responsável explica o que aconteceu durante o duplo ataque israelita ao hospital na segunda-feira, que causou a morte de pelo menos 22 pessoas, incluindo cinco jornalistas, alguns dos quais trabalhavam para meios de comunicação social internacionais como as agências noticiosas Associated Press e Reuters.
"Por volta das 10 horas da manhã, os bombardeamentos israelitas atingiram o quarto andar do edifício de cirurgia, exatamente o departamento de bloco operatório. Corri para a sala de emergência para pedir aos médicos, enfermeiros e outros funcionários que subissem para ajudar os colegas e transportar os feridos", relatou Mohamed Sakar.
No mesmo dia dos ataques, o primeiro-ministro israelita, Benjamin Netanyahu, descreveu-os como "um trágico acidente" e anunciou uma investigação militar aos acontecimentos no Hospital Nasser, uma das últimas instituições de saúde ainda parcialmente operacionais na Faixa de Gaza.
O comandante do Exército ordenou que a investigação continue, concentrando-se em pontos que incluem "o processo de tomada de decisões no terreno" e "as armas utilizadas no ataque", segundo um comunicado militar.
As ações dos soldados israelitas no Hospital Nasser podem corresponder a uma prática conhecida 'double tap', uma ação militar ilegal segundo o direito internacional, que visa causar baixas num primeiro ataque, aguardar que alguém socorra as vítimas e atacar uma segunda vez.
Nos ataques contra o Hospital Nasser, um primeiro impacto atingiu o exterior do quarto piso onde um operador de câmara contratado pela agência de notícias Reuters estava a emitir em direto.
Quando outros jornalistas e socorristas o foram ajudar, um novo disparo atingiu o mesmo local, de acordo com imagens transmitidas em direto por uma televisão do Egito.
Os ataques foram condenados pela generalidade da comunidade internacional, incluindo vários países ocidentais, agências das Nações Unidas e organizações de defesa dos jornalistas.
O conflito no enclave palestiniano foi desencadeado pelos ataques liderados pelo grupo extremista Hamas em 07 de outubro de 2023 no sul de Israel, onde perto de 1.200 pessoas morreram e cerca de 250 foram feitas reféns.
Em retaliação, Israel lançou uma vasta operação militar no território, que já provocou mais de 62.700 mortos, na maioria civis, segundo as autoridades locais, a destruição de quase todas as infraestruturas do enclave e a deslocação de centenas de milhares de pessoas.
Leia Também: Médio Oriente: António Guterres reafirma apelo para cessar-fogo imediato