Vítor Bruno vive, por estes dias, na 'corda bamba' no Dragão e o espaço para falhar é cada vez mais reduzido. Os azuis e brancos viajam até à Bélgica para defrontarem amanhã, quinta-feira, o Anderlecht, para a Liga Europa, e com eles levam um histórico registo de três derrotas consecutivas que tem servido para acentuar a insatisfação dos adeptos e pressionar a demissão do treinador.
Se, por um lado, André Villas-Boas poderá tentar adiar ao máximo o afastamento daquela que foi a sua escolha imediata para suceder a Sérgio Conceição, por outro começa a deparar-se com um cenário que, a prolongar-se, poderá comprometer a época 2024/25 no que aos objetivos do clube diz respeito.
O Desporto ao Minuto tentou saber junto de três figuras notáveis do FC Porto se o despedimento de Vítor Bruno é a única saída possível, caso se verifique um novo desaire na quinta-feira, mas as opiniões recolhidas não apresentaram um consenso. Os ex-jogadores Jorge Amaral e Edmílson Pimenta destacam que o clube não está habituado a derrotas e que um novo resultado negativo será castigador para Vítor Bruno, enquanto que o treinador Rui Quinta considera que é preciso dar tempo e estabilidade para que a realidade atual seja invertida.
Jorge Amaral já aponta possível sucessor
"Os resultados são o 'selo de marcha' - ou não - de um treinador. Um treinador tem sempre uma mala feita e outra por desfazer". Foi assim que Jorge Amaral respondeu ao repto de imaginar um novo resultado negativo para o FC Porto. O ex-jogador, que de seguida sublinhou que o clube que outrora representou "não está habituado a derrotas", também lembrou que Vítor Bruno "não tem atrás dele um escudo de resultados nem de títulos como treinador principal, o que o poderá fragilizar".
"Ele foi uma escolha da atual direção, que tinha de lhe dar total apoio para ele demonstrar as qualidades que eu acho que ele tem. A responsabilidade dos resultados não tem só a ver com o treinador. Acho que quando se desafia um treinador a ser campeão que era adjunto de um treinador com sete anos de casa, e que tinha uma liderança muito forte, tem de se lhe dar condições, uma almofada de conforto, a todos os níveis e principalmente com jogadores que lhe permitissem discutir todas as competições. Não tendo acontecido isso, a situação não é só da responsabilidade de Vítor Bruno", vincou então.
Jorge Amaral prosseguiu a 'defesa' do técnico e enumerou, de seguida, alguns jogadores que não têm "correspondido" com o que era esperado. "Falo dos desaparecimentos do Otávio e do Wendell, das nuances do Galeno, da contratação do Deniz Gul que, até agora, não tem dado provas, tal como Fábio Vieira e o Nehuen Pérez... Tudo jogadores que foram chamados para serem mais-valias e isso não tem acontecido", afiançou, referindo, depois, as duas saídas que enfraqueceram o plantel. "As saídas do Evanilson e do Pepe também não ajudam. Deveria ter-se pensado em alguém que pudesse fortalecer o sistema defensivo, mesmo que fosse de outra forma, porque era impossível estar ao nível do Pepe", acrescentou.
Jorge Amaral não nega, no entanto, que "o mais fácil" neste momento, até em termos de popularidade, "seria despedir Vítor Bruno", mas destaca igualmente que "a equipa necessita, também, de jogadores mais fortes, de alguém que assumam a liderança, até porque a parte emocional da equipa está muito enfraquecida".
Olhando novamente para o jogo de quinta-feira, o antigo guarda-redes admite que este poderá servir para ditar o futuro de Vítor Bruno, mas em caso de derrota também será preciso avaliar como o jogo foi perdido. "Se a equipa perder de forma digna, então não há motivos para despedi-lo, mas o problema é a forma como se perde. Se for sem lutar, sem mostrar ambição, sem mostrar que é preciso 'morrer' dentro do campo, é claro que demonstra que as mensagens que têm sido passadas pelo presidente e pelo treinador não estão a produzir efeitos e aí a posição do Vítor Bruno ficará muito fragilizada e o espaço de manobra dele fica completamente reduzido", rematou.
Por fim, e equacionando que a saída de Vítor Bruno vai mesmo acontecer, Jorge Amaral aponta para o possível sucessor: "Jorge Costa está lá e é o mais fácil de acontecer, ele conhece a casa, é um líder por natureza... Vir alguém de novo terá de ter tempo para descobrir que equipa é esta. Estar a começar tudo de novo não me parece que tenha cabimento".
Edmílson lembra exigência dos adeptos
Quem também atesta a teoria de que Jorge Costa seria uma boa aposta para suceder a Vítor Bruno é Edmílson Pimenta. O ex-avançado brasileiro também falou com o Desporto ao Minuto e confessou que o atual diretor para o futebol dos dragões "é o sucessor natural" e afigura-se, assim, como a "opção mais plausível".
Analisando a série de derrotas consecutivas do clube, Edmílson afirma que "quando se está num clube igual ao FC Porto, esse contexto é complicado" e, apesar de nunca ter vivido um período semelhante aquando da sua passagem pelo Dragão, sabe perfeita que "os adeptos são exigentes". "É normal que ele seja contestado e embora tenha sido a direção a apostar nele, são os adeptos que comandam. Quando eles não querem, não querem, e aí terão de ser o Villas-Boas e o Jorge Costa a tomarem uma decisão", completou.
Edmílson Pimenta referiu, também, que o próximo adversário do FC Porto "não será fácil de defrontar", até pela campanha que tem feito no campeonato belga.
Rui Quinta pede tempo para Vítor Bruno
"Uma eventual derrota na quinta-feira poderá ditar o despedimento de Vítor Bruno? Mas porquê?". Foi desta forma que o treinador Rui Quinta iniciou a conversa com o Desporto ao Minuto, marcando cedo a posição de que o atual treinador dos dragões precisa de mais tempo no clube.
"Há dois meses atrás ele parecia extraordinário, agora parece horrível. Quem nos diz que daqui a três meses não volta a ser extraordinário?", acrescentou, de seguida, o técnico que assumiu funções como adjunto de Vítor Pereira precisamente no FC Porto e que recordou, até, o período de contestação que ambos também viveram neste mesmo clube.
"Nós passámos, quando estivemos lá, por um momento muito parecido com este. Perdemos na Académica por 3-0, fomos jogar contra o Shakhtar e não me recordo de alguém que não tenha dito que o Vítor Pereira ia ser despedido, porque depois ia jogar-se com o Sp. Braga do Leonardo Jardim e seriam, seguramente, três derrotas seguidas, isto se não tivéssemos dado a volta às coisas. O que é certo é que nós ganhámos ao Shakhtar por 2-0, ganhámos por 3-2 ao Sp. Braga e fomos campeões nacionais", relatou Rui Quinta que, ainda assim, diz compreender "a necessidade de fazer alarido".
Com isto, o treinador adjunto apela a que "o clube não seja conduzido de fora para dentro", o que significa que não poderá ser a opinião dos adeptos a ditar o desfecho de Vítor Bruno: "O mais fácil agora seria 'espalmar' o treinador, mas um líder tem de ver além disso. Os resultados são, às vezes, madrastos, mas quem lidera tem outro conjunto de informações e sensibilidades diferentes. O Ruben Amorim, depois de ter sido campeão nacional no Sporting, também teve uma época desastrosa. Ele ficou e o que é certo é que marcou uma era no clube, temos de dar tempo às pessoas".
"Os adeptos são genuínos, quando se ganha querem tudo e quando se perde exigem tudo também, e é normal que assim seja e ainda bem que assim é, porque um clube desta dimensão vive para ganhar, vive para conquistar títulos. Perdeu-se a continuidade na Taça de Portugal, é verdade, é menos troféu em disputa, mas as épocas avaliam-se no final. Acredito que a onda que anda aí é no sentido de crucificar o treinador, porque é seguramente o mais fácil, e apesar de não conhecer a realidade do André Villas-Boas em termos diretivos, esta também foi uma escolha pessoal", completa Rui Quinta.
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