O processo judicial iniciado pelos Anjos contra Joana Marques reacendeu em Portugal o debate sobre os limites do humor - e se, de facto, estes existem.
Pedro Chagas Freitas participou na discussão ao fazer uma partilha nas redes sociais, defendendo não apenas a liberdade no humor, como também a importância de alguém conseguir rir-se de si próprio.
"Ser olhado por um humorista inteligente, dos bons, é um privilégio; não é uma humilhação. Mas é preciso estômago. Ser olhado com inteligência magoa. Despe-nos, mostra-nos coisas em nós que andávamos há anos a varrer para debaixo do tapete. Ainda por cima, fá-lo com graça.
Rir de nós próprios devia ser ensinado nas escolas.
Já fui chacinado por alguns humoristas. Até ao vivo, olhos nos olhos, quando estive no maravilhoso 'roast' ao Toy. Doeu. Claro que doeu. Ninguém gosta de ver os seus defeitos num monólogo. Depois, percebi: era só matéria risível. Se as merdas que me aconteceram, se as merdas que eu faço, podiam provocar um riso coletivo, talvez valessem alguma coisa. Todos devíamos doar um pouco da nossa miséria à comédia nacional. A minha está em circulação.
O último ano ensinou-me o que é realmente importante. Mais ainda: ensinou-me o que não vale o esforço de uma lágrima. O ego, por exemplo", começa por dizer.
Entretanto comenta o caso da comediante e radialista da Renascença: "Isto tudo para dizer que ser olhado pela Joana Marques — ou por qualquer outra criatura magnificamente lúcida — devia ser uma honra. Pode ferir, e todos temos o direito de estar feridos, de nos sentirmos feridos; pode mexer em fios que preferíamos que estivessem quietos, e todos temos fios desses, delicados. Mas rir de nós é um dos maiores atos de amor-próprio: um elogio às nossas falhas. Uma libertação. Se alguém tiver a ousadia de nos mostrar ao espelho, ainda que distorcido, devíamos agradecer a oportunidade de nos vermos".
Caso Anjos vs Joana Marques: em que ponto se encontra
O julgamento que opõe a dupla musical Anjos a Joana Marques continua a merecer a atenção do público. Esta segunda-feira, dia 30, aconteceu a terceira sessão que ficou marcada pelos depoimentos de Ricardo Araújo Pereira e Fernando Alvim, que saíram em defesa de Joana Marques.
A próxima (e última sessão) acontecerá a 11 de julho. Neste dia será ouvido Tatanka (Pedro Taborda), vocalista da banda The Black Mamba, a pedido de Sérgio e Nelson Rosado. Segundo o Observador, Joana Marques também pediu para depor, mas isso só poderá acontecer quando forem ouvidas todas as testemunhas.
A origem do julgamento
Em causa está um vídeo divulgado por Joana Marques na sua página de Instagram no qual esta fez uma paródia à dupla, nomeadamente, ao momento em que Nelson e Sérgio Rosado cantaram o hino nacional num evento de MotoGP - atuação marcada por vários problemas técnicos.
A banda defende que a paródia de Joana Marques levou ao cancelamento de vários espetáculos, provocando prejuízos avultados para os músicos e a restante equipa que os acompanha. Além do alegado prejuízo financeiro, dizem ainda ter sofrido danos psicológicos e ameaças que se estenderam a toda a família. Ao avançarem para tribunal pedem uma indemnização de mais de 1 milhão de euros.