A urgência do combate às alterações climáticas por parte dos países de todo o mundo levou o diretor da ONU Clima, Simon Stiell, a classificar a Conferência das Nações Unidas sobre as Mudanças Climáticas (COP) como "uma apólice de seguro para a humanidade", mas mesmo após duas noites de horas extraordinárias, o compromisso financeiro foi 'tirado a ferros' e dividiu opiniões.
O secretário-geral das Nações Unidas, António Guterres, foi um dos primeiros a reagir ao acordo que prevê um financiamento anual de pelo menos 300 mil milhões de dólares para os países em desenvolvimento, para os ajudar na transição energética, mas também para fazerem face aos problemas causados pelas alterações climáticas. Admitiu que "esperava um resultado mais ambicioso - tanto em termos de financiamento como de mitigação" e lembrou que cumprir o acordo é essencial para manter vivo o limite de 1,5°C para o aquecimento global.
Do lado da União Europeia (UE), o comissário europeu Wopke Hoekstra saudou no sábado à noite "o início de uma nova era" para o financiamento do clima, para o qual todos "trabalharam arduamente", garantindo "que há muito mais dinheiro sobre a mesa". E a presidente da Comissão Europeia, Ursula von der Leyen, acredita que o acordo "estimulará o investimento na transição energética e reduzirá as emissões" de gás com efeito de estufa.
Na mesma linha, o presidente dos Estados Unidos, Joe Biden, saudou o "passo importante" que coloca todos os países "num caminho mais seguro para um futuro melhor".
Países pobres dececionados. "Pouco ambicioso"
Os países mais pobres do mundo, que vão receber os fundos dos mais ricos, resignaram-se ao valor final, mas não esconderam a deceção com o resultado "pouco ambicioso".
Evans Njewa, do Malawi, em nome do grupo dos Países Menos Avançados (PMA), afirmou que o acordo "não é suficientemente ambicioso" e a Índia alegou que "o montante proposto para ser mobilizado é terrivelmente baixo".
Já a ministra do Ambiente do Brasil, Marina Silva, que será a anfitriã da próxima COP dentro de um ano, viu mesmo Baku como uma "experiência dolorosa".
Mesmo entre os países europeus houve quem não ficasse satisfeito. A ministra da Transição Ecológica de França, Agnès Pannier-Runacher, disse que o acordo alcançado em Baku "não está à altura dos desafios" e que o texto sobre o financiamento surgiu "num clima de confusão e contestado por vários países".
Portugal congratulou-se com o acordo, mas lamenta não ter havido "mais ambição" no que concerne à mitigação.
Organizações ambientais dececionadas com "resultado negativo"
A organização ambiental Greenpeace descreveu os mecanismos acordados no mercado de carbono como "uma farsa" e vê o resultado final da cimeira como "negativo".
Uma opinião partilhada pela associação ambientalista portuguesa Zero, que vê o resultado como insuficiente e lamenta o "infeliz clima de controvérsia e apreensão".
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