Taxistas de Maputo dizem que aplicativos móveis mataram o negócio

Aníbal Fernando é taxista há 30 anos, baseado no Hotel Avenida, em Maputo, mas assume que o ganha pão acabou com os preços baixos após a chegada de operadores por aplicativos, sendo tempo de fazer o "funeral" da atividade.

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Lusa
25/08/2025 05:00 ‧ há 10 horas por Lusa

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"Infelizmente, teremos que organizar um funeral com alguma decência e enterrarmos este assunto dos táxis. De um modo geral, neste momento que estou a falar, são todos os negócios que não estão bem. Mas, exatamente para nós, é mesmo os táxis por aplicativo que nos põem nesta situação", diz o taxista, em declarações à Lusa, nas ruas da capital moçambicana, enquanto aguarda algum dos poucos clientes diários.

 

Aníbal Fernando refere que o transporte por aplicativo de telemóvel, que se massificou em Maputo nos últimos anos, praticando preços que diz não gerarem lucro, acabaram com a época áurea do táxi convencional, que já chegou a ter mais de 15 carros naquela mesma praça, face aos dois atuais.

A quebra no negócio é confirmada pela Associação de Taxistas da Cidade de Maputo (Ataxima), que vê as praças e viaturas a desaparecerem das ruas da cidade.

"Antes dos aplicativos, tínhamos dentro da cidade de Maputo cerca de 125 praças e o número aproximadamente de 2.000 viaturas de táxi (...), era uma atividade que vinha trazendo um rendimento, era uma atividade organizada", explicou à Lusa o porta-voz da Ataxima, Lucílio Banze.

O resultado é que hoje "nem chegam a 500 viaturas" de táxi na capital moçambicana.

"Das 125 praças que tínhamos, no último balanço que fizemos, no mês passado, eram cerca de 60 em funcionamento. Significa que perdemos mais de metade das praças (...), cerca de 65 praças foram extintas. Não têm viaturas", refere.

A tecnologia, afirma, é "bem-vinda", mas "está muito mal estruturada, desorganizada, não tem uma orientação", criticou, mostrando que os táxis convencionais estão identificados com cores amarela e verde, o contrário dos aplicativos, que recorrem a qualquer viatura de uso pessoal.

"Temos uma dispersão tão grave da tarifa. À semelhança do chapa [transporte público], que a uma distância de 10 quilómetros, são 15 meticais [20 cêntimos de euro]. É uniforme. Tu vais à Matola, vais a Marracuene, na área metropolitana de Maputo. Mas no táxi nunca acontece. Cada um marca o seu preço", refere o porta-voz.

A Ataxima garante estar a trabalhar na revisão da postura municipal que não acomoda o táxi por aplicativo, nem dos mototáxis ou das boleias pagas, outra solução , incluindo capacitação dos motoristas para melhorar o atendimento.

Ainda assim, o transporte por aplicativo de telemóvel atrai milhares de motoristas espalhados nas cidades de Maputo e Beira (centro do país), devido às despesas reduzidas.

"Nós temos o imposto, temos o seguro, que é o seguro de táxi, motorista tem que ter profissionais e serviços públicos. Enquanto o táxi por aplicativo já não tem isso. Então nós temos que ter o seguro do táxi, temos o seguro dos clientes, e temos as finanças, e temos que pagar a licença", reforçou por sua vez Marta Mussane, taxista desde 2008 em Maputo.

Para Mussane, a segurança é uma das mais-valias dos táxis convencionais, como o seu: sempre que um cliente esquece um objeto, facilmente o localiza.

A preferência é de resto corroborada por Sara Khan, passageira de táxi convencional, devido a uma recomendação de uma amiga, e por sentir que é um meio seguro.

"Hoje em dia, não estou sequer a menosprezar, porque já andei com o Yango [táxi por aplicativo mais popular em Maputo] também, até porque, por sinal, é um pouco mais barato. Mas às vezes nós não conhecemos as pessoas, não é? Chamamos com o aplicativo e acabamos nos deparando com pessoas que não são, assim, provavelmente de total confiança, pode acontecer", aponta.

Entre a postura, preços e forma de operação, os taxistas moçambicanos pedem tratamento igualitário perante as obrigações fiscais.

"É preciso que os que estão à frente deste processo revejam isto, de modo que nós todos estejamos, como eu diria, na mesma balança. Porque é desleal, uma parte fica favorecida e a outra parte não fica em conta", finaliza Arlindo Lopes, outro taxista da cidade de Maputo, recordando que só para trabalhar precisa de uma licença que custa 2.000 meticais (27 euros), quando os 'aplicativos' nada pagam.

Leia Também: Mondlane festeja partido no aeroporto de Maputo com polícia a disparar

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