Os subsídios, que tinham sido aprovados no parlamento, "devem ser reservados apenas aos ucranianos empenhados em trabalhar na Polónia", justificou aos jornalistas o presidente conservador e ultranacionalista, acrescentando que a medida colocaria os polacos "em desvantagem no seu próprio país" e que não mudará de ideias.
A Polónia acolhe cerca de um milhão de refugiados ucranianos, desde o início da invasão russa do país vizinho, em fevereiro de 2022, que, sob proteção temporária da União Europeia, têm acesso a benefícios como assistência médica, educação pública e abono de família, em condições comparáveis aos cidadãos polacos e sem exigência de emprego.
O novo presidente polaco, empossado este mês, acredita que "a situação mudou fundamentalmente" e o quadro legal "deve ser corrigido" e, nesse sentido, entende que os benefícios, que vigorarão até ao final de setembro, não deverão ser prorrogados.
O fim destes apoios foi uma das promessas de campanha de Nawrocki, um historiador independente, eleito em junho, à segunda volta e à tangente, com apoio da Lei e Justiça (PiS), o maior partido de oposição, embora seja favorável ao apoio de Varsóvia a Kiev para resistir à agressão russa, ainda que sujeito a condições.
Karol Nawrocki travou também hoje uma lei de prolongamento da ajuda a Kiev e que cobriria os custos do sistema de comunicações por satélite Starlink, criado pela empresa norte-americana Space X, do multimilionário Elon Musk, e que mantém o país vizinho 'online' e que é igualmente vital para as forças armadas de Kiev.
Após o anúncio do veto presidencial, o ministro dos Assuntos Digitais, Krzystof Gawkowski, classificou a medida como "desastrosa" e uma "facada nas costas" da Ucrânia, alertando que poderá bloquear o acesso à Internet às escolas e hospitais e representa um "presente para as forças de [Presidene russo, Vladimir] Putin".
Segundo Gawkowski, este veto complica significativamente a situação, uma vez que "bloqueia de facto o acesso à Internet na Ucrânia" e também afeta o apoio à administração fiscal e ao armazenamento seguro de dados do Governo ucraniano.
De acordo com Varsóvia, a Polónia financiou a compra e as taxas de serviço de dezenas de milhares de terminais Starlink para a Ucrânia desde 2022, com uma despesa acumulada de quase 80 milhões de euros até 2024 e um desembolso anual de cerca de 45 milhões de euros para subscrições.
Além disso, o presidente polaco anunciou a apresentação de um projeto de lei para equiparar os "símbolos banderistas", relacionados com a figura nacionalista ucraniana Stepan Bandera, ao nazismo ou ao comunismo soviético, e tornar crime a sua exibição.
Na Ucrânia, Stepan Bandera está associado à luta pela independência do país durante a Segunda Guerra Mundial, mas na Polónia o seu nome está ligado aos massacres de Volhynia (1943-45), que custaram a vida a milhares de polacos.
Este tema permanece como fonte de tensão entre os dois países e foi igualmente central na campanha de Nawrocki, que, antes de ser eleito, foi diretor do Instituto da Memória Nacional e também do Museu da Segunda Guerra Mundial, em Gdansk, a sua cidade natal.
O novo presidente polaco defende ainda o aumento do processamento de pedidos de cidadania polaca de três para dez anos e da pena para a passagem ilegal da fronteira para cinco anos de prisão.
Os mais recentes processos eleitorais na Polónia mostram uma acentuada divisão no país e a vitória de Karol Narwocki faz antever uma relação difícil com a coligação liberal e pró-europeia no poder, chefiada por Donald Tusk, e que está nos seus antípodas ideológicos.
Apesar de maioritários no parlamento, os partidos que sustentam o Governo não têm os 60% de lugares necessários para contrariar um veto presidencial.
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