A grávida do Barreiro que perdeu o bebé depois de ter sido encaminhada para o Hospital de Cascais não seguiu as primeiras recomendações da Linha SNS 24, que a encaminhou para o Hospital de Santa Maria, porque não tinha dinheiro para pagar a deslocação, avança o Expresso.
Segundo o semanário, os registos indicam que a mulher foi encaminhada para a Urgência obstétrica do Hospital de Santa Maria, mas confessou ao operador de linha que não tinha dinheiro para pagar a deslocação do Barreiro até Lisboa. Sem que lhe tenha sido dada qualquer alternativa, desligou a chamada.
Desta forma, viria a ligar para o 112 para pedir ajuda, tendo sido acionados os bombeiros e a Viatura Médica de Emergência e Reanimação (VMER) do Barreiro, que levaria a mulher para Cascais, onde chegou com o feto já sem vida.
Numa resposta à agência Lusa, os Serviços Partilhados do Ministério da Saúde (SPMS) adiantaram que, após ter sido auditado o sistema da linha SNS 24, registam-se duas chamadas do número de telefone indicado pela utente, a primeira para a opção "Linha SNS Grávida" às 01h20, que foi desligada após 41 segundos de espera.
A segunda chamada, na qual foi acionada a opção "Problemas Respiratórios", foi realizada à 01h23 e desligada à 01h28, referiu a mesma fonte.
Os SPMS avançaram ainda que a linha SNS 24 atendeu depois, às 01h30 de quinta-feira, a referida utente, através de uma chamada transferida pelo Centro de Orientação de Doentes Urgentes (CODU) do INEM.
"A linha SNS 24 realizou triagem de acordo com o algoritmo em vigor, aprovado pela Comissão Nacional da Saúde da Mulher, da Criança e do Adolescente, tendo resultado no encaminhamento para o serviço de urgência obstétrica", referiu a mesma fonte.
Segundo os SPMS, de acordo com a matriz de referenciação, o serviço de urgência obstétrica que cobria a localização da utente - concelho do Barreiro - no momento do contacto telefónico, era na Unidade Local de Saúde Santa Maria. "A utente foi, por isso, referenciada para o Hospital Santa Maria", assegurou. Depois disso, a grávida voltou a contactar o INEM às 01h47, que acionou os meios necessários, tendo sido transferida para Cascais.
O Ministério da Saúde negou na sexta-feira que tenha sido recusada assistência à grávida, assegurando que a utente foi acompanhada por um médico do INEM durante o trajeto entre o Barreiro e Hospital de Cascais.
"Em todos os momentos foi garantido o acesso aos cuidados de saúde, concluindo-se que a resposta prestada à utente quer pela Linha grávida do SNS, quer pelo INEM foi congruente com os protocolos de referenciação e de acesso em vigor", assegura o Ministério em comunicado.
Posteriormente, a ministra da Saúde, Ana Paula Martins, também garantiu "não houve uma deficiência" no atendimento. "Não houve uma deficiência nem no atendimento, nem na classificação, nem no encaminhamento e nem na chegada ao local, que era, de facto, o hospital que tinha, naquele momento, as condições de cuidados perinatais diferenciados, ou seja, neonatologia", afirmou.
Ana Paula Martins assegurou que a grávida "não passou por vários hospitais", tendo sido orientada para o hospital que estava disponível".
"Os telefonemas que a senhora fez foram atendidos no tempo recomendado, a orientação do CODU foi feita, a senhora foi acompanhada, não só por uma ambulância hospitalar, mas também por uma VMER, que é uma ambulância especializada que tem médico", acrescentou.
Sublinhou que "nenhum dos hospitais da Península de Setúbal podia ficar" com o caso, pelo que a utente foi encaminhada para outro hospital.
Acrescentou que aquela mãe "não tinha referenciação" para qualquer hospital da Península de Setúbal.
"Independentemente de tudo, tinha de ir para um hospital mais diferenciado. E esses hospitais diferenciados de que estamos a falar, concretamente, eram a Maternidade Alfredo da Costa, ou Santa Maria ou o Hospital de Cascais. E, portanto, a senhora foi exatamente encaminhada para onde tinha de ser", concluiu.
Na quinta-feira, a RTP noticiou o caso de uma grávida de 31 semanas que terá ligado para a linha de Saúde 24, sem sucesso, e acabou por ligar para o 112, sendo acionados os bombeiros do Barreiro. A grávida, em situação de risco, perdeu o bebé depois de ter sido encaminhada para um hospital a mais de uma hora de distância da zona de residência.
Este foi o segundo caso em poucos dias de uma grávida que perdeu o bebé, depois de procurar uma resposta de urgência.
A outra situação refere-se a uma mulher que foi atendida em cinco unidades hospitalares do SNS em 13 dias, referindo queixas de dores, tendo o parto sido realizado na Unidade Local de Saúde (ULS) de Santa Maria, em Lisboa, em 22 junho, onde, "pouco tempo depois, a recém-nascida morreu".
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