O partido entregou hoje no Parlamento uma proposta de constituição de uma comissão parlamentar de inquérito, anunciada no domingo por André Ventura, para que os deputados investiguem o que se passou entre 2017 e a atualidade.
De acordo com o texto, o Chega propõe que o Parlamento faça uma avaliação de "todo o processo de gestão da prevenção e combate aos incêndios rurais" e fiscalize a utilização "dos fundos públicos destinados ao combate aos incêndios rurais, nomeadamente os contratos de aluguer de meios aéreos e a aquisição de equipamentos".
O partido liderado por André Ventura quer também que sejam investigados "os diversos negócios e interesses económicos que alegadamente prosperam com a perpetuação dos incêndios rurais, incluindo mas não se limitando, ao comércio de madeira queimada, especulação imobiliária e indústria de equipamentos".
O Chega propõe ainda "esclarecer de forma cabal os contornos da operação policial Torre de Controlo", que tem a ver com suspeitas de corrupção e burla relacionadas com os concursos públicos para o combate aos incêndios rurais, e "investigar a existência de eventuais esquemas de cartelização ou corrupção no setor do combate aos incêndios rurais".
O Grupo Parlamentar do Chega quer ainda que sejam avaliadas as "decisões estratégicas que levaram Portugal a ser o único país mediterrânico sem meios aéreos próprios para combate a incêndios, apesar de ser o país europeu com maior área percentual ardida".
"Duas décadas após 2003 e quase uma década depois de 2017, o país permanece refém de um padrão cíclico de devastação, revelando-se incapaz de converter a experiência das catástrofes passadas em capacidade operacional efetiva. Esta persistente ineficácia há muito que levanta suspeitas sobre a existência de um verdadeiro "negócio dos incêndios" em Portugal, um conjunto de interesses económicos que, paradoxalmente, beneficiam da perpetuação do problema que deveriam resolver", refere o Chega no texto.
Na proposta de constituição de uma comissão parlamentar de inquérito, o partido considera que "é no negócio dos meios aéreos que estas suspeitas ganham contornos mais concretos e preocupantes".
"Para além dos contratos milionários de meios aéreos, existem múltiplas suspeitas sobre outros negócios que prosperam à sombra dos incêndios rurais. Há décadas que populares das regiões mais afetadas, jornalistas de investigação e especialistas florestais denunciam a existência de uma cadeia de interesses económicos que beneficia da perpetuação das catástrofes dos incêndios", indicam os deputados do Chega.
E dão como exemplos o comércio de madeira queimada "vendida a preços irrisórios", o alegado benefício da indústria das celuloses e dos equipamentos anti-incêndio, ou a especulação imobiliária.
No domingo, o líder do Chega anunciou que o partido iria dar entrada ainda naquele dia com um pedido para a realização de uma comissão de inquérito sobre o combate aos incêndios e os negócios em torno dos fogos.
Hoje, também a coordenadora do BE anunciou que vai pedir uma comissão de inquérito com um foco na coordenação e meios de combate aos incêndios florestais ocorridos neste verão.
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