A intervenção foi feita pelo deputado da IL Mário Amorim Lopes, no período de declarações políticas na Assembleia da República, que disse repugnar-lhe um "mundo onde a sátira é punida e a sensibilidade é lei" e defendeu que a "liberdade de expressão não é um favor que se concede aos que dizem" o que se quer ouvir.
"Estar do lado do consenso é fácil, muito fácil. A liberdade de expressão serve para proteger todos os outros. A liberdade de expressão é a mais bonita das formas da liberdade de pensamento. É que, quando não se pode dizer tudo, não se pode pensar livremente", disse.
Depois, abordando especificamente o caso entre Joana Marques e os Anjos, Mário Amorim Lopes disse que o processo não visa apenas a comediante, mas "todos enquanto sociedade livre".
"Ao defender-se, a Joana defende-nos a todos nós. A pequenina Joana Marques defende-nos com uma grandeza apenas reservada a poucos. Defende a liberdade de rir de nós e dos outros. Defende a sátira, a crítica, a liberdade criativa. Defende o direito de continuarmos a falar livremente", disse.
Mário Amorim Lopes pediu para ser igualmente castigado se um dia alguém achar que "a sátira deve ser punida, se algum dia a Joana Marques ou algum outro humorista for condenado".
A seguir a esta intervenção, a deputada única do BE, Mariana Mortágua, criticou Mário Amorim Lopes por trazer a debate um processo judicial quando ainda não existe sequer uma condenação e aproveitou para deixar uma 'farpa' à IL.
"Na Argentina, quando Milei cria um botão silenciador para silencia perguntas de jornalistas, quando reprime manifestações de reformados, (...) está a defender a liberdade de expressão como a IL a concebe?", perguntou, com Mário Amorim Lopes a condenar essa situação na Argentina e a contrapor que o BE integrou nas suas listas ex-membros das FP-25.
O deputado do Livre Paulo Muacho também criticou o teor da declaração de Mário Amorim Lopes, considerando desadequado pôr o "parlamento a debater um caso judicial que ainda nem sequer foi decidido".
"É até caso para dizer: 'calma, jovem'. Falando sobre liberdade de expressão, o necessário não é discutirmos aqui no parlamento os limites do humor - isso vai o tribunal decidir e não entendemos sequer que se deva legislar nessa matéria -, mas sim os limites do discurso do ódio", defendeu.
O PSD, pela voz do deputado João Antunes dos Santos, também fez a mesma crítica a Mário Amorim Lopes, considerando que a IL só trouxe este tema a debate porque "sabe que é um tema mediático e é o tema da semana".
O deputado do PSD recordou à IL que vigora em Portugal o princípio da separação de poderes, perguntando a Mário Amorim Lopes se não seria "mais avisado aguardar pelos tempos da Justiça", "ao invés de, de forma oportunista, buscar a notícia fácil".
Na resposta, Mário Amorim Lopes disse que a Assembleia da República não é tribunal e frisou que estava a fazer uma "defesa política de um valor fundacional de qualquer sociedade democrática e livre", considerando que nunca é inoportuno falar de liberdade de expressão.
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