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"Bebi muito de Jorge Jesus. A nível tático e defensivo era fortíssimo"

Em entrevista exclusiva ao Desporto ao Minuto, o ex-técnico do Alverca recordou momentos da carreira enquanto jogador profissional e dos primeiros desafios enquanto treinador. Zé Pedro recordou, ainda, os tempos em que fora orientado por Jorge Jesus e partilhou balneário com o então colega Ruben Amorim.

Zé Pedro Vitória FC

© Reprodução Vitória FC

Davide Rodrigues Araújo
02/07/2025 07:05 ‧ há 2 dias por Davide Rodrigues Araújo

Desporto

Exclusivo

José Pedro Alves Salazar, mais conhecido como Zé Pedro no mundo do futebol nacional, foi uma das figuras mais idolatradas pelos adeptos dos clubes por onde passou como jogador, com as passagens mais marcantes a acontecerem no Belenenses, no Vitória FC e no Barreirense, onde sempre que regressa aos seus campos, é recebido com um carinho especial.

 

Agora é treinador e tem como objetivo chegar ao topo, tendo em carteira experiência enquanto timoneiro principal do Alcochetense, da B SAD, do Vitória FC e, mais recentemente, do Alverca, na última temporada, tendo liderado a equipa nas primeiras quatro jornadas da sua campanha na II Liga.

Em entrevista exclusiva ao Desporto ao Minuto, o ex-técnico do Alverca recordou momentos da carreira enquanto jogador profissional e dos primeiros desafios enquanto treinador, estando atualmente sem clube por estar à espera do projeto certo.

Uma referência em vários clubes onde passou, nomeadamente no Belenenses e no Vitória FC… Como é que se sente ao saber que é um dos favoritos dos adeptos das 'casas' onde passou?

Naturalmente satisfeito. Foram os clubes onde passei mais tempo como atleta profissional. Nesta lista também incluo o Barreirense, onde estive cinco anos e é um histórico, mas que não teve tanto impacto na minha carreira por estar em divisões mais baixas. Mas é sempre bom, é sinal do trabalho desenvolvido quando lá passe., Como jogador correu super bem, agora mais recentemente enquanto treinador também, e fico feliz de, quando vou a essas casas, também sou reconhecido pelo que fiz no passado.

Em 2006/07, ajudou a levar o Belenenses às competições europeias, mas apanharam logo um colosso como já era na altura o Bayern Munique. Qual foi o sentimento?

Eu já me tinha estreado no Boavista, ao jogar a Taça UEFA, mas foi o resultado daquilo que tínhamos feito no ano anterior, em que conseguimos alcançar o quinto lugar e ter acesso à Taça UEFA. Calhou-nos logo o Bayern Munique na pré-eliminatória, que foi bom, por um lado, porque íamos jogar contra uma equipa de excelência, de topo mundial, mas depois também sentimos que iria ser curto, que dificilmente iríamos passar nesses dois jogos. Foi um prémio pela época anterior, onde também fomos à final da Taça de Portugal. Defrontar um clube da dimensão do Bayern Munique foi extremamente gratificante.

Jogar na Allianz Arena foi especial?

Sim, até porque dois anos antes, ainda sem Jorge Jesus como treinador, essa não era a nossa realidade no Belenenses. Lembro-me, por exemplo, a caminho do estádio ele estava com as cores brancas e depois do jogo, estava completamente vermelho por fora. O facto de entrar e de não sermos uma equipa de grande referência, o Bayern acabou por ter uma casa bem composta, não me lembro se foi casa cheia, mas esteve muito perto disso. Foi a primeira vez que vi um balneário com piscina, inclusive o da equipa visitante que também tinha. Ao entrar em campo havia umas escadas que abriam automaticamente para nós entrarmos e termos acesso ao relvado. Poder jogar contra grandes jogadores que o Bayern tinha na altura... Desde que soubemos o sorteio e que íamos defrontar esta grande equipa que foi tudo muito marcante na nossa carreira.

Na temporada 2002/03 dá um salto enorme na sua carreira ao mudar-se do Barreirense, que disputava o que equivale à atual terceira divisão nacional, e vai para o Boavista, que tinha vencido o campeonato nacional dois anos antes. Como lidou com essa mudança de realidades?

Houve algum tempo para me preparar. Eu fiz boas épocas no Barreirense e quase já se sabia que, em janeiro, iria sair e que possivelmente havia clubes da I Liga. Na altura houve três, um deles foi o Boavista e aos poucos fui-me preparando para aquilo que podia encontrar. O Boavista tinha sido campeão nacional dois anos antes, sendo que também estava em reestruturação, com alguns problemas financeiros e desportivos. Também foram contratados outros jogadores, quatro ou cinco, de divisões inferiores, então alimentei sempre a hipótese de que, se o clube se estava a reestruturar, talvez haja uma janela aberta e uma oportunidade para agarrar. Foi um contexto completamente diferente, mesmo com os problemas que já falei. Era I Liga, um campeonato que nunca tinha disputado, e tive de me adaptar porque sempre joguei na margem sul, agora tinha de ir jogar para o norte, outras mentalidades. Já sabia o treinador que tinham, como é que era o Boavista, portanto durante esse tempo que eu sabia que ia sair do Barreirense para um clube de outro patamar, fui-me preparando. Lá fui apenas vivendo a realidade e adaptando-me o mais rápido possível.

Termina a carreira aos 35 anos nos campeonatos distritais, no Alcochetense, depois de deixar o Vitória FC, que estava na I Liga. Foi algo pensado para o capítulo seguinte como treinador desse clube ou teve outra razão por trás desta mudança?

Eu já não tinha condições físicas para disputar a I Liga. II Liga também achei que não estava bem e podia ser difícil. Acabei por ir para o Alcochete, mas também poderia ter ido para o Pinhalnovense, que era Campeonato de Portugal, porque fui treinar 15 dias e o Luís Manuel, que era o treinador na altura, queria muito que eu ficasse. Só que a minha ideia era ou deixar por completo, ou entregar o último ano da carreira para ver como me sentia e o grande objetivo era mesmo tirar o segundo nível de treinador.

Então a decisão em ir para o Alcochetense foi também pensar que no ano após me retirar estaria a treinar alguma equipa, sendo que queria jogar e também me preparar para aquilo que queria, que era a área do treino. Depois ter tempo para poder tirar o segundo nível de treinador, que já me permitiria ser adjunto de um clube de I Liga. A ida para o Alcochete permitia-me isso mesmo e foi assim que fiz o meu último ano como atleta. Acho que não me arrastei e que até fiz praticamente todos os jogos. No final acabaram por me convidar para treinar a equipa.

No ano de estreia enquanto treinador conquista logo o único troféu da carreira, até ao momento, com uma Taça de Setúbal. Sentiu que este troféu poderia ser o começo de uma história bonita?

Eu olhei para aquilo que queria fazer e o objetivo era gradualmente ir tirando os outros níveis do curso de treinador. O terceiro e quarto nível surgiram com alguma naturalidade, sendo apenas necessária algumas manobras logísticas, porque depois o Silas também acaba por deixar de jogar, eu entro na equipa técnica dele e a partir daí conseguimos tirar o nível três. Até porque entrámos logo no Belenenses, e depois mais à frente, no Sporting, tirei o nível quatro.

Esse convite do Silas foi algo que já tinham falado como colegas de equipa ou acabou por surpreender?

Já tínhamos falado. Eu fui colega de equipa e de quarto do Silas no Belenenses, durante quase três anos. Acho que dormi quase mais vezes com ele do que com a minha mulher [risos]. Ele depois também foi morar para a margem sul perto de mim, então aquele trajeto de casa para o treino, e vice-versa, fazíamos muitas vezes juntos e nos estágios ficávamos no mesmo quarto. Durante todas as nossas conversas, percebemos que isso poderia acontecer. Depois ele foi jogar para outros sítios, mas fomos mantendo o contacto e quando ele deixa o Cova da Piedade e há a possibilidade de ir para o Belenenses, fomos quase que puxar a cassete atrás e avançámos.

Quando assumo ser treinador principal e ir para a B SAD, era como se não fosse o Belenenses. A B SAD, para mim, era uma outra equipa

O primeiro convite ser para o Belenenses, um clube onde ambos estiveram muitos anos, acaba por ser especial? Como foi o regresso a casa?

Acho que foram sete anos entre a altura em que saí como jogador e voltei como treinador, mas voltar a uma casa onde estive seis anos, foi o clube onde estive mais tempo como jogador, e o facto de eu e o Silas, modéstia à parte, sermos das maiores referências do Belenenses, foi muito gratificante, muito bom. Faltava pouco tempo para acabar a época e para atingir os objetivos, não era preciso muita coisa, acho que em nove jogos precisávamos de ganhar dois, era aceitável. Foi pensar nisto tudo e no facto de voltar novamente ao Restelo e deparar-me com aquilo que, há meia dúzia de anos atrás, foi muito gratificante.

O Zé Pedro acabou por treinar o Belenenses e depois a B SAD… Como lidou com a situação de ver o 'seu' Belenenses descer aos campeonatos distritais? Estando do outro lado, como geriu as emoções?

Desde que sai do Belenenses com o Silas, para ir para o Sporting, tive um trajeto em que passei pelo Famalicão, AEL Limassol e ainda tive um tempo sem treinar. Quando assumo ser treinador principal e vou para a B SAD, era como se não fosse o Belenenses. A B SAD, para mim, era uma outra equipa, foi a sequência da não união do clube com a SAD, mas já olhei para a B SAD como uma equipa diferente. Não olhei como ir para a B SAD e lembrar-me do Belenenses, até porque muito mudou. Era no Jamor, com outras condições, já o Belenenses estava a ser Belenenses e a querer-se reerguer. Pelo que quando vou para a BSAD, é uma equipa... Já não é o Belenenses.

Falou aqui no AEL Limassol. Esta foi a primeira experiência no estrangeiro. Como foi lidar com este novo desafio?

A experiência foi boa, nunca tinha saído do país mesmo como jogador e o facto de o Silas ter jogado no AEL Limassol, para nós enquanto equipa técnica foi bom, ficámos mais confortáveis porque sabíamos mais ou menos para onde íamos, ou se não sabíamos que tínhamos alguém que já lá tinha estado. Ele deu-nos indicações de como aquilo seria. Claro que alimentei um pouco aquilo, porque tínhamos um contrato de dois anos, pensei que iria correr bem, íamos estar lá os dois anos e que iria funcionar e podia ser um trampolim para outros campeonatos. A verdade é que acabámos por estar lá apenas dois meses, mas foi muito confortável a mudança para o Chipre. Embora não tenha corrido como esperávamos a nível desportivo, é um país interessante. Se houver a oportunidade no Chipre ou noutro país qualquer que apresente condições e que, aparentemente, dê condições para poder trabalhar, vejo com bons olhos.

Notícias ao Minuto Zé Pedro esteve no comando técnico do Alverca nos primeiros quatro encontros de 2024/25© Instagram/Alverca

Teve alguma sondagem de clubes nos últimos tempos?

Sim, desde que saí do Alverca e até mesmo no ano passado, quando terminei a época no Vitória FC, e termos conseguido a subida de divisão e as coisas terem corrido bem, houve logo contactos e possíveis interesses. Fui abordado por algumas pessoas nesse sentido e não demos o passo em frente por acharmos que não apresentavam aquilo que pretendia no momento atual. Entretanto também surgiu o Alverca e depois novamente, por ter treinado II Liga, há sempre conversas, houve abordagens, mas não demos o passo em frente.

Em 2023/24, sobe de divisão com o Vitória FC, mas vê essa conquista a não ser consumada e o clube acaba por descer aos campeonatos distritais por motivos administrativos. Qual foi o sentimento de ver este desenrolar de acontecimentos?

Para já, vi mal esta situação porque deu-me muito trabalho subir de divisão. Um clube que me marcou muito e tenho sempre de falar nisto, vivi anos em Setúbal e isso marca-me e conheço aquelas pessoas. Depois como treinador principal foi muito difícil. O clube, no ano anterior, tinha descido ao Campeonato de Portugal, convidaram-me para tentar devolver o clube à Liga 3. Desportivamente conseguimos - e volto a dizer que me deu muito trabalho -, porque aquele clube é demasiado exigente. Administrativamente não conseguiu responder àquilo que a Liga ou a Federação exigiam. Ver o clube na segunda distrital é mau.

Foi duplamente frustrante porque tinha uma cláusula no contrato que, no caso de conseguir subir o clube à Liga 3, renovava automaticamente o contrato. Então fiquei um pouco sem saber o que ia acontecer, mas no final da época houve uma abordagem do Alverca, e depois era uma questão de treinar II Liga ou descer para o Campeonato de Portugal ou campeonatos distritais. Foi uma não questão, porque são oportunidades que temos de aproveitar e sabíamos que o Vitória FC muito dificilmente iria conseguir apresentar os pressupostos para ficar na Liga 3.

Foi treinado por Jorge Jesus no Belenenses... Que memórias e ensinamentos guarda do mister e qual o momento que o marcou com Jorge Jesus?

São muito... Foram dois anos e é um treinador que, quase todos os dias, deixa marca nos jogadores. Mas se falar de um, se calhar foi no dia da apresentação de Jorge Jesus, em que não sabíamos onde íamos jogar devido ao 'caso Gil Vicente', se na II Liga ou na I Liga, e ele foi contratado nessa situação. Lembro no primeiro dia em que ele chegou e disse ao grupo: "Só quero que vocês saibam, quer seja na I Liga, quer seja na II Liga, o que nós vamos fazer aqui é sermos os melhores". Isso praticamente qualquer treinador diz quando chega a um novo clube, mas ele realmente foi melhor, fez mesmo a diferença.

Tivemos a sorte de continuar a jogar na I Liga e depois foram episódios atrás de episódios, mas acho que mais importante foi aquilo que ele nos ensinou e nos transmitiu enquanto treinador. Taticamente muito forte, liderança também, e o resultado está à vista. Nós até brincamos com ele, porque temos essa boa relação, que se ele está onde está foi porque nós o pusemos lá [risos]. Ele depois vai do Belenenses para o Sporting de Braga e depois começa a 'disparar'...

Levou algum desses ensinamentos para a sua carreira enquanto treinador? O que é que implementou no seu modelo de trabalho?

Jamais não podia tirar nada do Jesus. Para mim foi, juntamente com o Carlos Carvalhal, o treinador que mais me marcou pela positiva. Levo do Jorge Jesus as nuances táticas, a forma como a equipa está posicionada dentro de campo e o trabalho defensivo. Acho que são as partes de onde 'bebi muito' desse trabalho, mas o que levo mais, apesar de ter os meus exercícios, o trabalho defensivo, porque em jogo jogado e nas bolas paradas, ele era fortíssimo.

Além de Silas, também partilhou balneário com Ruben Amorim no Belenenses. O perfil dele enquanto jogador na altura fazia prever o sucesso que ele já teve enquanto treinador, ou a sua juventude nessa época não apresentava esse perfil?

A maioria de jogadores que foram colegas do Ruben, até mesmo colegas que ele apanhou no Sporting de Braga, depois do Belenenses, e no Benfica, nunca acharam que o Ruben Amorim fosse ter este sucesso no passado recente. Eu até me dou super bem com o Ruben, mas na altura, nem falávamos na área do treino. O nosso objetivo era jogar, mas houve muito tempo em que estivemos juntos e falámos de inúmeras situações e nunca senti que o Ruben fosse para esta área. Contudo, surpreendeu-me, porque nunca falámos sobre isto e a verdade é que ele tem feito um trabalho muito bom. Sinto que ele no fundo sabia onde se iria meter, mas acho que na próxima temporada vamos voltar a ver o Ruben que foi em Portugal.

Esta pressão que tem vindo a sentir no Manchester United, o Zé Pedro acha que Ruben Amorim tem perfil para dar a volta por cima?

Mesmo no lado dos adeptos, e com a exigência do clube, as coisas estão mais ou menos calmas, até pelo discurso dele no final desta época. O próprio estádio respondeu com palmas, acreditando naquilo que vai acontecer na próxima temporada. Há maior pressão dos jornalistas em Inglaterra, mas ele já em Portugal teve a capacidade de dar boas respostas aos jornalistas e lá também tem tido. Ele sempre teve essa capacidade e foi sempre capaz de estar à altura. Tem boa comunicação, mas 2025/26 não pode ser igual à época que agora terminou. Nem vai ter essa margem, penso eu.

No futuro, via-se a ser presidente de um clube? Nomeadamente um dos clubes por onde passou, como o Belenenses, o Vitória FC ou mesmo o Barreirense ou Alcochetense?

Não, porque não acho que tenha o perfil para isso. De qualquer forma, nestes últimos tempos, não só penso como treinador como penso muito no que é que os presidentes, os diretores desportivos e os CEO possam pensar na forma de gerir. Com um cargo desses não, mas acho que se tivesse, seria completamente diferente. Mas acho que não tenho perfil para isso. A minha ambição é ser treinador e é para isso que vou continuar a lutar.

Leia Também: Paços de Ferreira trava subida do Belenenses e segura vaga na II Liga

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