O presidente de El Salvador, Nayib Bukele, negou, na quinta-feira, que o salvadorenho Kilmar Ábrego Garcia tenha sido torturado no Centro de Confinamento de Terroristas, ou CECOT, depois de ter sido deportado por “erro” pelos Estados Unidos.
“Aparentemente, tudo o que um criminoso afirma é aceite como verdade pelos principais meios de comunicação social e pelo desmoronado sistema judicial ocidental”, começou por escrever o chefe de Estado, numa publicação divulgada na rede social X (Twitter).
É que, recorde-se, os advogados do jovem de 29 anos detalharam, na quarta-feira, que o salvadorenho perdeu 14 quilos nas duas primeiras semanas de detenção e foi “sujeito a maus-tratos severos à chegada ao CECOT, incluindo mas não se limitando a espancamentos severos, privação de sono severa, nutrição inadequada e tortura psicológica”.
Bukele refutou estas acusações e apontou que “fotografias mostram que ele ganhou peso enquanto esteve detido”.
“O homem não foi torturado, nem perdeu peso. De facto, as fotografias mostram que ele ganhou peso enquanto esteve detido. Há muitas imagens de diferentes dias, incluindo o encontro com o senador Van Hollen, que confirmou que o homem parecia estar bem. Se ele foi torturado, privado de sono e passou fome, porque é que ele parece tão bem em todas as fotografias? Porque é que ele ganharia peso? Porque é que não tem nódoas negras, nem sequer olheiras?”, questionou.
Bukele incluiu ainda um vídeo, no qual foram compiladas várias imagens de videovigilância de Ábrego Garcia no interior da cela, assim como a praticar desporto e a ser alvo de consultas de rotina.
Apparently, anything a criminal claims is accepted as truth by the mainstream media and the crumbling Western judiciary.
— Nayib Bukele (@nayibbukele) July 3, 2025
But the man wasn’t tortured, nor did he lose weight. In fact, photos show he gained weight while in detention. There’s plenty of footage from different days,… pic.twitter.com/PzvLcCNzrK
Os documentos judiciais apresentados no Tribunal Distrital Federal de Maryland deram também conta de que Ábrego Garcia foi de tal forma agredido à chegada ao CECOT que, no dia seguinte, tinha o corpo repleto de hematomas e de inchaços. O salvadorenho disse ainda ter sido obrigado a ficar de joelhos durante uma noite inteira, com outros 20 detidos. Quem caísse de exaustão, era espancado.
O jovem denunciou, além disso, que os reclusos "ficavam confinados em beliches de metal sem colchões, numa cela sobrelotada, sem janelas, com luzes brilhantes acesas 24 horas por dia e acesso mínimo a saneamento”, noticiou o The Guardian.
Os guardam também terão ameaçado transferi-lo para celas com membros de gangues que o "rasgariam" em pedaços.
Ábrego Garcia, um trabalhador da construção civil de Maryland, tornou-se um ponto de inflamação sobre as políticas de imigração do presidente norte-americano, Donald Trump, depois de ter sido erradamente deportado para El Salvador, em março.
O governo norte-americano fez regressar o salvadorenho aos Estados Unidos a 6 de junho, depois de ter sido deportado com 230 imigrantes para El Salvador, apesar de ter um estatuto que o protegia. O Supremo Tribunal e um juiz de Maryland concluíram, por isso, que a expulsão foi ilegal.
No entanto, após o regresso aos Estados Unidos, o jovem foi acusado de tráfico de seres humanos, na sequência de um encontro que manteve com agentes da polícia no Tennessee, em 2022, quando viajava com vários imigrantes alegadamente sem documentos.
Ábrego Garcia declarou-se inocente na primeira audiência sobre estas acusações, que teve lugar a 13 de junho, em Nashville, no Tennessee. Enquanto decorria a audiência, centenas de pessoas protestaram à porta do tribunal para pedir a libertação do arguido e a abolição da agência de imigração ICE (Immigration and Customs Enforcement).
As autoridades sustentaram que Ábrego Garcia tem ligações ao gangue MS-13, mas os seus advogados apontaram que o governo não forneceu qualquer prova que o corroborasse e que o jovem nunca foi acusado de qualquer crime relacionado com tal atividade.
Leia Também: Deportado por "erro" diz ter sido agredido e torturado em El Salvador