O Presidente da Rússia, Vladimir Putin, "vai invadir Estados da União Europeia se não for impedido, claro que vai", assegurou a lituana Rasa Jukneviciene (centro-direita), em entrevista à agência Lusa.
"O seu objetivo é destruir a União Europeia e que os norte-americanos diminuam a liderança democrática a nível global", afirmou, sublinhando que a Ucrânia "não será suficiente" para Putin.
A eurodeputada, membro do Partido Popular Europeu (PPE, a que pertencem PSD e CDs-PP), que assumiu a presidência da assembleia parlamentar da NATO (sigla em inglês da Organização do Tratado do Atlântico Norte) em 2018, considera que este cenário deveria ser suficiente para afastar quaisquer dúvidas da Europa em investir mais na segurança.
"A defesa e a segurança são a nossa prioridade existencial", sublinhou a eurodeputada, para quem o reforço do investimento na Aliança Atlântica é fundamental.
"A guerra de Putin contra a Ucrânia é [também] nossa, é uma guerra existencial das democracias europeias" para a qual a Europa "não está preparada", disse, adiantando que "quando os Estados Unidos pedem [aos membros europeus da NATO] para fazer mais, têm razão".
Para a antiga responsável da NATO, "é muito claro que chegou o momento de compreender, sobretudo os Estados-membros da NATO do continente europeu, a divisão de responsabilidades na NATO, porque, até agora, se viveu com cerca de 70%, 60% das capacidades de defesa baseadas nos Estados Unidos".
"Temos de desenvolver as nossas capacidades para restaurar e aumentar as nossas indústrias de defesa, mas antes de mais, para ajudar a Ucrânia a vencer esta guerra", defendeu a também antiga ministra da Defesa da Lituânia (2008-2012).
A convicção de Rasa Jukneviciene afasta a preocupação de poder ter de se desinvestir no Estado social para reforçar o investimento na defesa.
"Não desistir das nossas economias é também aumentar a nossa defesa, porque as indústrias de defesa também são economia", disse, considerando, no entanto, que a Europa não tem propriamente escolha.
"Se perdermos e se a Rússia tomar [a Ucrânia] ou atacar um Estado-membro, a União Europeia ficará fragilizada e deixará de ser uma União Europeia, talvez deixe até de existir", alertou.
Embora admita que "poucas pessoas estão a pensar estrategicamente no futuro" e que a maioria prefere que as coisas se mantenham como estão, Rasa Jukneviciene garantiu que a diferença entre ajudar mais ou manter a situação é quase irrelevante em termos individuais.
"Alguém calculou que cada cidadão dos Estados-membros da União Europeia gasta [o equivalente ao custo de] 1,2 chávenas de café por mês em apoio à Ucrânia. Portanto, não se trata de [ameaçar o] bem-estar social [se se passar a] gastar duas chávenas de café por mês em defesa", sublinhou.
"Compreendo que muitos não me apoiem se eu disser que reduzir as férias de luxo num hotel de cinco estrelas para um hotel de quatro estrelas no Mediterrâneo não é um grande problema, mas se entenderem que podemos perder tudo, já é diferente", reiterou.
"Mas posso contar a minha experiência de 2008 a 2012 [enquanto ministra da Defesa], quando começaram a aumentar drasticamente os ataques contra a Geórgia, no Cáucaso do Sul", relatou, explicando que a Lituânia se sentia nua, já que tinha gastos pequenos com a defesa e a NATO estava no Afeganistão, pelo que não cuidava da segurança territorial da região.
"Não tínhamos Forças Armadas preparadas. Nada. Ninguém da NATO, nem destacamentos da NATO no nosso país. Os russos reconheceram esta fraqueza da UE e dos Estados-membros da NATO e, nessa altura, a Ucrânia estava sob o controlo deles", lembrou.
Depois, numa visita ao Pentágono em 2012, foi informada, através de um 'briefing' confidencial, que a segurança regional estava ameaçada.
"Fizeram as mesmas avaliações sobre o enorme aumento de poder militar do lado russo e uma situação muito, muito débil do nosso lado" e avisaram que, se a situação se mantivesse, a Rússia estaria pronta, em 2019, para testar a NATO através dos países bálticos, adiantou.
Por tudo isso, Rasa Jukneviciene defende hoje uma união de defesa maior do que apenas dos Estados-membros da União Europeia, mas que envolva também o Reino unido, a Noruega, a Turquia ou o Canadá.
Os 32 países da NATO decidiram, numa cimeira realizada em Haia nos dias 24 e 25 de junho, que vão aumentar o investimento de 5% do PIB na área da defesa até 2035, com uma revisão dos objetivos em 2029.
Leia Também: Adesão? UE e Moldava vão percorrer "caminho europeu juntos"