Portugal tem prevista uma Agenda Nacional de Inteligência Artificial e Gonçalo Perdigão, diretor-geral e cofundador da Algorithm G, consultora internacional focada na aplicação de IA Generativa e Web3, esteve envolvido em algumas dessas discussões, também a convite do Governo.
"Existe a agenda, mas dada a relevância do tema e até a relevância do ponto de vista geopolítico, como falávamos há pouco, o tema tem que ter uma atenção grande, tem que ter um 'spotlight'", defende o coautor do livro 'Building Creative Machines', em parceria com Filipa Matos Baptista e João Santos Pereira.
"Portanto, não pode ser um tema periférico, não pode ser um tema paralelo, tem que ser um tema que está mesmo na agenda, mesmo para acontecer, com datas que têm de ser cumpridas, com recursos humanos e financeiros significativos e bem alocados para que de facto aconteça alguma coisa", insistiu o gestor.
No fundo, esta agenda tem de ter prazos e resultados, caso contrário "não vamos ter impacto real", adverte.
Questionado se se deveria criar uma entidade apenas dedicada à IA, já que é uma tecnologia transversal, Gonçalo Perdigão considera que "faz todo o sentido".
Até "porque existem N entidades para N coisas e essas entidades foram criadas quando a necessidade surgiu. Neste momento, e falámos desde 2023 até agora, um dos grandes temas a nível tecnológico é a inteligência artificial, em especial a componente generativa", prossegue.
Portanto, "faria todo o sentido, a meu ver, existir essa entidade, essa entidade poderia gerir algum tipo de consórcio ou poderia ser o coordenador de um consórcio, e depois levar o tema para a frente", diz.
Em suma, não deve ser "mais um trabalho que alguém tem de fazer, além dos outros cinco ou seis trabalhos que já têm na sua agenda, de trabalho", mas antes haver "foco" através "da criação de um veículo que permita essa gestão".
Relativamente ao LLM (modelo de linguagem de larga escala) português Amália, considerou "muito importante" trabalhar "num modelo nacional e que isso sirva como uma experiência, como um teste, e como uma aprendizagem coletiva".
Agora "será difícil termos à escala nacional um modelo que seja competitivo com os melhores modelos mundiais, mesmo para a Europa, esse é um desafio enorme", diz.
Por exemplo, no top10 de modelos do mundo, na Europa existe "um apenas, que é um modelo francês", o Mistral.
"Um modelo competente é um modelo que tem muitos recursos financeiros, muitos recursos tecnológicos, placas gráficas, muitos recursos matemáticos, muitos recursos de informação" e também compra informação.
Nesse sentido, "é muito difícil à escala nacional termos isso. Acho que é uma boa aprendizagem para, talvez, ambicionarmos ter um projeto muito competitivo à escala europeia. Isso seria um grande desafio", defendeu.
Por exemplo, o modelo de IA chinês DeepSeek, quando nasce, "aparece como algo que é muito, muito bom e que foi muito, muito barato, mas também não há auditoria que confirme o custo real de criação".
Os EUA e a China são as regiões que têm, atualmente, os melhores modelos, mas "curiosamente China é o país do mundo que está com mais patentes na área de inteligência artificial", sublinha.
Gonçalo Perdigão defende mais foco da União Europeia na IA, tendo a região sido pioneira na regulação.
"Temos uma coisa muito boa que as outras regiões ainda não têm, agora é um foco na tecnologia, tem existido alguns avanços", por exemplo na área dos supercomputadores "a Europa já tem um conjunto de supercomputadores que está a disponibilizar" a países, empresas e 'startups' para trabalharem nas áreas IA.
Do ponto de vista de recursos computacionais, "pelo menos, já avançámos, agora é preciso o resto".
Sobre o grande desafio da IA, "é incorporar a velocidade a que as coisas estão a acontecer" e "nós, humanos, diria que temos alguma dificuldade em incorporar variações muito disruptivas num espaço curto de tempo".
Depois, na outra vertente, "aquilo que poderá ser a grande vantagem ou mais-valia está nas pessoas e nas empresas que se dediquem e que criem estruturas para aproveitar o máximo desta tecnologia porque podem conseguir diferenciar-se dos seus concorrentes naquilo que é um salto bastante significativo apenas com uma tecnologia" e levá-las a um patamar muito superior.
Nos EUA Estados Unidos "já estão a aplicar a tecnologia a fundo, aqui na Europa há alguns casos também interessantes dessa aplicação e mesmo em Portugal", conclui.
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