O homem de 30 anos suspeito de assassinar quatro estudantes da Universidade de Idaho, a 13 de novembro de 2022, declarou-se culpado das cinco acusações que pendiam sobre si, na quarta-feira, na sequência de um acordo que poupava o ex-doutorando em justiça criminal de vir a ser condenado a pena de morte.
À medida que o juiz Steven Hippler enumerava o nome de cada uma das vítimas – Kaylee Goncalves e Madison Mogen, de 21 anos, assim como Xana Kernodle e Ethan Chapin, de 20 anos –, Bryan Kohberger anuiu afirmativamente ser culpado pelos homicídios.
Kohberger, que foi acusado de quatro crimes de homicídio em primeiro grau e de um crime de roubo, será, assim, poupado à pena de morte, como parte de um acordo estabelecido com os procuradores. A missiva determinou ainda que o homem renunciasse ao seu direito de recorrer da sentença, que ficou agendada para o dia 23 de julho.
Segundo o acordo, o antigo estudante de justiça criminal será condenado a quatro penas de prisão perpétuas consecutivas e à pena máxima de 10 anos por roubo.
O antigo doutorando na Universidade Estadual de Washington garantiu também estar a pensar com clareza e rejeitou que lhe tivessem prometido algo em troca da confissão. Disse, ainda, estar a declarar-se culpado por o ser.
Além de ter apresentado as provas contra Kohberger, que incluíam o ADN do jovem, coincidente com o ADN masculino encontrado numa bainha de faca deixada perto do corpo de Madison Mogen, o procurador Bill Thompson deu conta da cronologia estabelecida pela acusação e da ordem definitiva em que as vítimas foram mortas.
O responsável detalhou que, naquela madrugada, Kohberger deixou o seu apartamento em Pullman, em Washington, e seguiu para Moscow no seu Hyundai Elantra branco, “dando a volta” ao bairro das vítimas. Pelas quatro da manhã, o homem acedeu ao interior da casa dos estudantes pela porta de correr da cozinha. Dirigiu-se, então, ao terceiro andar, onde matou Kaylee Goncalves e Madison Mogen.
Quando estava “a descer as escadas ou a sair”, deparou-se com Xana Kernodle, que tinha encomendado comida pouco antes. “Acabou por matá-la, também com uma faca grande. Ethan Chapin, o namorado de Xana, estava a dormir no quarto dela, e o arguido também o matou”, disse.
Duas outras estudantes sobreviveram, tendo uma elas alegado ter ouvido alguém a chorar num dos quartos das vítimas. Ao abrir a porta, viu um homem vestido de preto a passar por si e a sair da casa.
De acordo com a acusação, Kohberger comprou a arma do crime online, cerca de oito meses antes dos homicídios. Thompson garantiu ainda que não existia uma “componente sexual” no crime, que tinha sido “estudado” pelo arguido.
"Fez um trabalho pormenorizado sobre o processamento de cenas de crime. Ele tinha esse conhecimento e habilidade", disse.
Kaylee Goncalves, Madison Mogen, Xana Kernodle e Ethan Chapin, ao meio© Instagram / @kayleegoncalves
Acordo dividiu familiares das vítimas
Ainda que os procuradores tenham apontado que o acordo alcançado com Kohberger era uma "tentativa sincera de ter justiça" para as famílias, as reações divergiram.
O pai de Kaylee Goncalves, Steve Goncalves, considerou que os procuradores “fizeram um acordo com o diabo”, em declarações à imprensa, no exterior do Tribunal do Quarto Distrito Judicial do Idaho, em Boise.
A família contou à ABC News que, no dia anterior, tinha pedido que os termos do acordo fossem alterados para incluir uma confissão completa e a localização da arma do crime, uma faca de caça do tipo KA-BAR, que nunca foi encontrada. Contudo, os procuradores terão recusado, tendo alegado que uma proposta já aceite pelo arguido não poderia ser eticamente alterada.
Por seu turno, os familiares de Ethan Chapin disseram, numa pequena declaração, estar presentes “para apoiar o acordo”.
Já a família de Madison Mogen apontou que “este é o melhor resultado possível”, uma vez que poderia passar “da tragédia e do luto para a luz do futuro".
Também os pais de Kohberger estiveram na audiência, pela primeira vez desde que o filho foi detido, na Pensilvânia, cerca de um mês depois dos crimes.
"Os Kohberger pedem aos membros dos meios de comunicação social privacidade, respeito e discernimento responsável durante este período. Continuaremos a permitir que o processo legal se desenrole com respeito a todas as partes", apelaram, em comunicado.
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