Dalai Lama pôs fim à especulação de que será o último líder espiritual do Tibete. Esta quarta-feira, a dias no seu 90.º aniversário, disse que, após a sua morte, reencarnará como o próximo líder espiritual do budismo tibetano e definiu um processo de sucessão.
A declaração, muito aguarda, foi transmitida numa mensagem de vídeo, transmitida durante cerimónias de oração que antecedem o seu 90º aniversário, celebrado no domingo. O líder espiritual e Nobel da Paz indicou que a busca pelo próximo Dalai Lama deverá seguir os rituais estabelecidos desde a criação da instituição, em 1587.
"Estou a afirmar que a instituição do Dalai Lama vai continuar", disse Dalai Lama, segundo cita a Reuters, acrescentando que o processo de escolha do seu sucessor será feito "de acordo com a tradição budista tibetana", afastando a hipótese de extinguir o cargo, como chegou a admitir no passado.
"Devem, por conseguinte, levar a cabo os procedimentos de busca e reconhecimento de acordo com a tradição passada... ninguém mais tem autoridade para interferir nesta matéria", afirmou.
Segundo a tradição tibetana, a alma de um monge budista sénior reencarna no corpo de uma criança após a sua morte e Dalai Lama pode escolher o corpo no qual será reencarnado.
As especulações em torno do tema tinham sido desencadeadas pelo próprio, durante uma semana de celebrações na cidade de Dharamshala, no norte da Índia, quando afirmou a continuidade da sua instituição, numa das declarações mais claras até à data sobre a intenção de garantir um sucessor.
A posição do Dalai Lama colide com os planos de Pequim, que considera o líder tibetano um separatista. O governo chinês procura controlar a sucessão e, para tal, deteve em 1995 o Panchen Lama, figura central no reconhecimento da reencarnação, com o objetivo de nomear um sucessor alinhado com os interesses do Partido Comunista Chinês.
Já hoje, a China reiterou que o sucessor de Dalai Lama deverá ser "aprovado pelo Governo central".
A reencarnação de figuras budistas de grande relevo, como o Dala Lama e o Panchen Lama, deve ser determinada por sorteio através da Urna Dourada e posteriormente aprovada pelo Governo central", afirmou o porta-voz do Ministério dos Negócios Estrangeiros da China, Mao Ning, em conferência de imprensa
Com 89 anos, o Dalai Lama vive exilado na Índia desde 1959, ano em que fugiu do Tibete após uma revolta falhada contra a ocupação chinesa. Desde então, lidera a administração tibetana no exílio, a partir de Dharamshala, defendendo a autonomia do Tibete e a preservação da sua cultura.
Os mais altos lamas das diferentes escolas do budismo tibetano iniciam hoje uma conferência de três dias convocada pelo Dalai Lama para discutir o futuro da sua sucessão.
Os participantes no encontro são lamas ou mestres espirituais, muitos deles reconhecidos como Rinpoches --- considerados reencarnações de sábios do passado --- e responsáveis pelas principais escolas e mosteiros tibetanos. Este grupo constitui o corpo espiritual encarregado de conduzir o processo de reconhecimento da nova reencarnação do Dalai Lama.
A tradição budista tibetana sustenta que os mestres iluminados renascem para dar continuidade ao seu legado espiritual. O 14º Dalai Lama completa 90 anos no domingo, e espera-se que aproveite a ocasião para deixar pistas sobre o local onde poderá encontrar-se o seu sucessor ou sucessora, após a sua morte.
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