Dalai Lama faz 90 anos em contexto de crise com China. Que está em causa?

O 14º Dalai Lama completa 90 anos este domingo. O aniversário acontece após uma semana de celebrações por parte dos seguidores, mas também num contexto de crise com a China, que continua a desafiar após falar da sua esperança de viver para além dos 130 anos e de reencarnar depois de morrer.

Dalai Lama

© Elke Scholiers/Getty Images

Notícias ao Minuto com Lusa
06/07/2025 08:33 ‧ ontem por Notícias ao Minuto com Lusa

Mundo

Dalai Lama

Dalai Lama celebra, este domingo, o 90.º aniversário, dias depois de meter fim à especulação de que será o último líder espiritual do Tibete. A celebração surge no meio de uma crise com a China sobre a sua sucessão. 

 

Ainda ontem, o líder espiritual do Tibete disse que espera viver "mais 30 ou 40 anos". 

"Fiz o meu melhor até agora. Assumo a minha responsabilidade com toda a minha determinação e coragem", disse o Dalai Lama antes de continuar: "Espero viver mais 30 a 40 anos. As nossas orações estão a dar frutos", proclamou.

Neste discurso, atribuiu esta força e otimismo à sua fé em Avalokiteshvara [Lokeshwara para os tibetanos], a divindade da compaixão da qual se considera uma manifestação.

"Tenho sinais e indicações claras de que as suas bênçãos estão comigo. Assim que acordo de manhã, rezo para gerar a mente do despertar. Sinto que as bênçãos de Avalokiteshvara chegam sempre até mim", continuou.

Dalai Lama apelou também aos seus seguidores para manterem a fé coletiva, fazendo uma analogia com a Revolução Cultural Chinesa para ilustrar o poder da determinação conjunta. "Durante a Revolução Cultural chinesa, eles [chineses] também fizeram esforços coletivos e foi por isso que tiveram força", disse.

"Espero viver mais 30 a 40 anos. As nossas orações estão a dar frutos"

O Dalai Lama, que completa este domingo 90 anos, previu hoje que espera viver "mais 30 ou 40 anos", uma declaração significativa no contexto de uma crise com a China sobre a sua sucessão.

Lusa | 07:36 - 05/07/2025

Kashag acusa China de "proibir" tibetanos de celebrar Dalai Lama

Já hoje o Kashag, o gabinete do governo tibetano no exílio, denunciou que as autoridades chinesas estão a "proibir à força" os tibetanos no Tibete de celebrarem o seu líder.

Numa declaração oficial, o governo no exílio afirmou que, enquanto a diáspora celebra abertamente, os seus "irmãos e irmãs tibetanos no Tibete estão proibidos de participar mesmo em atividades religiosas básicas, como oferecer incenso ou erguer bandeiras de oração em honra do aniversário do seu mestre".

De acordo com ativistas e fontes no exílio, esta proibição manifesta-se através de uma vigilância acrescida, da intimidação dos funcionários locais e da intensificação das campanhas de "educação patriótica", que procuram suplantar a lealdade ao Dalai Lama pela lealdade ao Partido Comunista Chinês.

Face a esta repressão, o Kashag reivindicou apelou ao "verdadeiro poder suave do povo tibetano", os ensinamentos de compaixão do Dalai Lama, um poder que, segundo o governo tibetano no exílio, "nunca poderá ser subjugado por forças hostis, cegas pela ignorância".

Este conceito de "soft power" contrasta diretamente com a estratégia da China no Tibete, que se baseia no controlo militar, no investimento maciço em infraestruturas e na assimilação cultural.

A tensão com a China

A declaração do Kashag é divulgada numa semana de grande tensão e segue-se ao histórico conclave de líderes budistas na semana passada, em que acordaram uma nova estratégia de confronto com Pequim. Na última semana, Dalai Lama pôs fim à especulação de que será o último líder espiritual do Tibete. Disse que, após a sua morte, reencarnará como o próximo líder espiritual do budismo tibetano e definiu um processo de sucessão. 

A declaração, muito aguarda, foi transmitida numa mensagem de vídeo,  transmitida durante cerimónias de oração que antecederam o seu aniversário. O Nobel da Paz indicou que a busca pelo próximo Dalai Lama deverá seguir os rituais estabelecidos desde a criação da instituição, em 1587.

"Estou a afirmar que a instituição do Dalai Lama vai continuar", disse Dalai Lama, segundo cita a Reuters, acrescentando que o processo de escolha do seu sucessor será feito "de acordo com a tradição budista tibetana", afastando a hipótese de extinguir o cargo, como chegou a admitir no passado.

"Devem, por conseguinte, levar a cabo os procedimentos de busca e reconhecimento de acordo com a tradição passada... ninguém mais tem autoridade para interferir nesta matéria", afirmou.

Segundo a tradição tibetana, a alma de um monge budista sénior reencarna no corpo de uma criança após a sua morte e Dalai Lama pode escolher o corpo no qual será reencarnado. 

Dalai Lama põe fim à especulação: Reencarnará e sucessão segue tradição

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Dalai Lama declarou que a linhagem espiritual continuará e que o processo de sucessão será conduzido segundo a tradição budista tibetana, abrindo caminho a um novo confronto com a China.

Notícias ao Minuto com Lusa | 12:04 - 02/07/2025

A posição do Dalai Lama colide com os planos de Pequim, que considera o líder tibetano um separatista. O governo chinês procura controlar a sucessão e, para tal, deteve em 1995 o Panchen Lama, figura central no reconhecimento da reencarnação, com o objetivo de nomear um sucessor alinhado com os interesses do Partido Comunista Chinês.

A China tem reiterado que o sucessor de Dalai Lama deverá ser "aprovado pelo Governo central". 

Com 89 anos, o Dalai Lama vive exilado na Índia desde 1959, ano em que fugiu do Tibete após uma revolta falhada contra a ocupação chinesa. Desde então, lidera a administração tibetana no exílio, a partir de Dharamshala, defendendo a autonomia do Tibete e a preservação da sua cultura.

A tradição budista tibetana sustenta que os mestres iluminados renascem para dar continuidade ao seu legado espiritual.

Leia Também: Kashag acusa China de "proibir" tibetanos de celebrar Dalai Lama

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